A folga que se seguiu ao embarque
foi estranha. Apesar de não me preocupar quanto a ter ou não um emprego – já
que estava em período de experiência, mas havia sido muito bem avaliado – eu não
tinha a mínima ideia de para qual navio eu iria. E eu detesto ficar sem
resposta. O certo era que, para o Lorena não seria; mas isso é apenas metade da
informação. As pessoas me perguntavam se eu passaria o Natal e ano novo em
casa, eu não sabia dizer. Para cada dia trabalhado, temos um dia em casa. Sendo
assim, eu deveria embarcar ao final de 35 dias. É e não é, mais ou menos. O
único navio com escala 35 é o tal para o qual eu não voltaria. Nesse caso, ao
final dos 35 dias deveria haver um navio com um taifeiro a menos, ou com um
contratado por tempo determinado e perto do vencimento do contrato, ou com um
efetivo com tempo de embarque vencido (maior que a escala determinada do navio
– e havia gente em vários navios com 120 dias a bordo), e esse navio deveria
estar em um porto, ou próximo de um. Aí então eu poderia embarcar. Não era
simples saber nem se e nem quando eu embarcaria. Muito menos onde.
O embarque no Lorena é nos dias
de sexta-feira. Nesse caso, quem não é de Fortaleza sai de casa na quinta, vai
para um hotel na cidade e espera o transporte vir buscar antes das quatro da
manhã da sexta-feira para que sigamos até Paracuru. Eu precisava saber que rumo
deveria tomar. Por isso, na segunda-feira que antecede a última sexta dos
trinta e cinco dias, liguei para a embarcadora para saber se já havia alguma
informação atualizada. “Logística, Cláudia, bom dia?” ; “Oi, Cláudia. Aqui é o
Arthur taifeiro. Sou novo na empresa, embarquei no Lorena da última vez. Estive
aí para buscar o macacão, conheci vocês, e tal.” ; “Ah, oi, Arthur! Eu lembro
de você!” ; “(sorriso na voz) Tudo bem?
E ai? “ ; “Tudo bem, sim! Pode falar, Arthur.” ; “Então, Cláudia. Pouco
tempo depois que embarquei por lá, me disseram que eu não voltaria. Antes mesmo
que eu tivesse ido pra lá, o comandante havia pedido um Aluísio pra ia pro
lugar do Seu Mário, mas ele só poderia ir por agora. Parece que estava
embarcado na época. Aí me mandaram pra safar lá. Mas o caso é que a vaga mesmo
é do Aluísio.” ; “Ah é?” ; “Pois é. Aí eu tô desde esse dia sem saber pra onde
eu vou. Como hoje começa minha última semana de folga, tô te ligando pra saber
se vocês já sabem pra onde eu vou. E se
não souberem, que já tenham essa semana aí desde o início para me avisarem, que
eu preciso me programar, né?” ; “Não, tudo bem. Me dá teu nome completo e tua
matrícula.” ; “Matrícula é tal.” ; “Olha, Arthur. Não tem nada aqui no teu nome
não. Até que alguém diga o contrário, você está voltando para o Lorena. Mas
vamos fazer assim: eu vou falar com a Monique pra ter certeza, e assim que
estiver tudo certo a gente se fala de novo, tá?” ; “Então tá bom! (mais um
sorriso na voz) Brigadããão, tchaaaau!”
Quer dizer então que eu vou
voltar, é? - pensei alto. Voltando ou
não voltando, eu precisava resolver a vida antes de embarcar. Arrumar mala,
comprar o que precisa levar para passar o mês – sabonete, pasta de dente,
escova, remédio de gripe, dor de cabeça, essas coisas- e um violão . Eu
precisava comprar um violão pra levar. Eu tenho um violão. Mas eu não poderia
ficar toda vez levando e trazendo, por vários motivos. Só posso despachar uma
bagagem de até 23kg sem pagar. O quilo extra custa 25 reais. É dinheiro pra
diabo, rapaz. Pra ir e pra voltar? Toda vez? Eu não sou doido. Outra que quem
despachar meu violão não vai ter um décimo do carinho que eu tenho com ele.
Tanta porrada que o bichinho vai levar... que seja uma vez só. E em casa eu não
vou ficar sem. Preciso comprar um violão. Pesquisei, escolhi três marcas, fui
na rua da Carioca. “Desce lá o Tagima, o Strinberg e o Takamine. “ Tagima,
custo benefício imbatível. Tá resolvido.
Quando foi na quarta-feira,
chegou a passagem no e mail. sexta-feira, oito e alguma coisa da manhã. Agora
eu estava mesmo voltando. Printei a passagem, mandei para a imediata pelo zap.
“Tô voltando!” ; “Ai, que bom! A gente aqui não estava sabendo ainda. Não tinha
chegado pra mim.” ; “Então, o embarque é dia de sábado? A passagem tá pra sexta
de manhã...” ; “Ih, tá errado. Liga pra elas e avisa. “ ; “Tá ok. Mas deixa eu
te perguntar. Então agora eu estou fixo no navio, ou não tem nada resolvido? É
que comprei um violão pra deixar a bordo, e quero saber se posso levar.” ;
“Não, ainda não quer dizer que você está fixo. Mas você pode sim, trazer o
violão, ué.” ; “Posso não, só levo pra onde eu ficar fixo, só levo uma vez.” Passagem
trocada. Quinta-feira, meio dia e pouquinho. “Pai, me leva?” ; “Levo, filho.
Passo aí de manhã cedo.” ; “Pô, valeu.”
Chegando no aeroporto, fui logo
fazer o check-in . Era cedo e eu não queria ficar carregando a mala pra todo lado.
Melhor despachar logo. Deu erro lá, não conseguia fazer nem a pau. Fui no
supervisor, que conversava com outro funcionário. Enquanto eu esperava eles
terminarem, chegou uma senhora, depois uma menina. Ele atendeu as duas – que
também iam para Fortaleza – e só depois me dirigiu a palavra. “Fortaleza
também?” ; “Fortaleza também.” Mexeu lá no computador, pronto. “Pode deixar sua
bagagem aqui comigo, senhor. Eu mesmo despacho. “ E me deu lá os adesivos de
bagagem. Como eu havia ficado só com a
mochila, podia andar com mais liberdade. Fui pro lado de fora fumar. “Aí, show,
bora dar um brilho aí no tênis?” Do lado de fora do aeroporto há vários
engraxates. “Pô, negão, olha aí. Primeira vez que eu uso depois de tirar da
máquina de lavar. Tá zero bala.” ; “Deixa o amigo garantir o almoço, na moral?”
; “Já é, segura aí (e dei duas de dois a
ele). Aí, cadê o Quinho? Trabalha mais
aí não?” ; “Trabalha, pô. Conhece o Quinho, tu? “ ; “Conheço geral aí, rapaz.
Só não conheço é você . Tu é da Nova Holanda também? “; “Sou também. Como que
tu conhece os caras?” ; “Ah, quando o terminal um ainda funcionava eu vinha
todo dia na polícia federal fazer os documentos dos gringos. Aí almoçava lá no
fome zero , pô. Quinho ia lá direto. Ele, os moleques aí tudo.” ; “Tá ligado, né.”
; “É, pô. Uma vez até fiz um samba sobre os engraxates lá do centro. Falando do
golpe do 3,20. O Quinho se amarrou. É samba de breque.” ; “É mermo? Então manda
aí!”
O
samba do engraxate
Caixinha, graxa e escova, transeunte não se mova, me deixe
trabalhar (o seu pisante vai brilhar)
Tenho aqui tanto produto, que imitação de couro bruto reluz
em cromo alemão (por três e vinte é um negoção!)
Não saia de fininho, tenho ali três amiguinho pra garantir o
serviço, vamos deixar de reboliço
Pra quê reclamar, se o assoalho vai brilhar onde o senhor
passar? (Vai parecer um popstar!)Dobro sua calça, passo a graxa, bato a caixa
pedindo o outro pé (já sabes bem como é que é)
Meu pano nervoso vai deixar tudo lustroso, e estamos quase
conversados (só falta agora os meus trocados)
Pra cada pé são três de vinte, no total dá cento e vinte,
pois trabalho bom é raro ( e o combinado não sai caro)
Deus do céu, não reparei, o senhor é homem da lei, acho que
dessa vez rodei!
Meu caro cana, não se zangue, não suje suas mãos de sangue
por um mal entendido (já inclusive, resolvido)
Acontece, meu nobre, que a astúcia é a coragem do pobre,
como já disse Ariano (ainda aos vinte e poucos anos)
Leve de graça essa graxa, pra ninguém dizer que acha que
tenho má intenção. Trabalhador não é ladrão!
Eu tenho é credibilidade em todo o centro da cidade, e o
cliente tem razão.
“Hahahaha, representou! Aí, bota
esse bagulho pra frente, que vai dar certo, mano. Deixa eu correr, valeu!” ;
“Pô, manda um abraço lá pro Quinho, pros moleques tudo lá, hein!”
LEANDRO
E fui fazendo hora, andei tudo
dentro do aeroporto. Resolvi ir para a área de embarque. No detector de metais,
prenderam meu isqueiro. A menina do detector de metais deu “bom dia senhor,
esvazie os bolsos aqui nessa caixinha, por gentileza.”; “Acho que foi tudo.” ;
“E esse isqueiro aqui?” ; “Bonitão, né?” ; “Mas é um isqueiro normal?” – e
tentava, mas não conseguia saber como botar o isqueiro pra funcionar. “Não, pô.
Esse aí sabe álgebra!” – Rimos muito, acendi o isqueiro e ela disse “ih, é maçarico.
É que maçarico não pode.”; “Ah, besteira, pô. Esquece isso.” ; “Poxa, senhor.
Eu vou precisar chamar o Leandro. LEAN...” ; “NÃO, NÃO, não chama o Leandro
não, que ele vai criar o maior caso, vai querer roubar meu isqueiro, e ele nem
fuma.” ; “Rs, pior que ele nem é mesmo fumante. Eu que sou.” ; “Ah, tá
explicado.” ; “Mas eu não posso ficar com o isqueiro do senhor. Ele vai para
aquela lixeira ali, de produtos inflamáveis.” ; “Ah, claro. Aquela ali que é só
tirar a outra lixeira que tem em cima e escolher o que você quer, né? Uhum. Por
isso que você tá rindo. Porque nenhum outro ser humano vai tocar de novo no meu
isqueiro nos próximos dez minutos.” –
Leandro chegou e logo ficou a par da situação. “Porra, parceiro. Cinquenta
cruzeiros esse isqueiro aí, pô! Tu nem fuma e vai embarreirar meu isqueiro,
cara?”; “Senhor, esse isqueiro é maçarico. Se fosse um isqueiro comum, até
poderia. É medida de segurança.” ; “Olha pra minha cara, Leandro. Eu nunca
taquei fogo em avião nenhum não. Não é hoje que eu vou começar, né? Pô, vê como
que faz aí... Já tá juntando gente aqui na fila, ó. É mais jogo tu me liberar.”
Uma mulher esperava sua vez de passar a bagagem no raio x . Estava com a filha
adolescente. Quando olhei pra trás , vi que ela estava achando o maior barato a
minha conversa com o Leandro. Com toda a certeza do mundo ela não era do Rio.
Se fosse, estaria de saco cheio. “Senhor, o senhor pode voltar lá e despachar,
se quiser.” ; “Leandro. Tu tá me gastando que eu vou ,porra, despachar um
isqueiro, irmão? Vai custar uns trezentos contos despachar isso aqui. Pô, cara.
Nunca deu problema!” ; “É, mas hoje deu, senhor. Sinto muito.” ; “Ah, porra. Se
eu soubesse, já tinha tacado fogo no avião antes. Fui deixar pra tacar logo
hoje que você tá aqui. Tu quer o isqueiro, mermão? Toma o isqueiro! Feliz
natal!” Ele doido pra rir, eu saí sorrindo, sacudindo a cabeça e resmungando
“puta sacanagem, cara”. Rio de Janeiro. Aqui a gente faz amizade até
discutindo.
AMIGO OCULTO – O SORTEIO
No embarque passado, o chefe de
máquinas comemorou seu aniversário de 65 anos. Ainda teremos outras
oportunidades para falar sobre esse personagem. Ele não sabe, mas me ajuda
muito a construir melhor o universo dos outros tripulantes. Quanto menos ele
souber, mas vai me ajudar. Ele se emocionou, falou com os olhos tremendo e
rasos d’água que estava chegando ao fim da expectativa de vida e pedia a Deus
mais cinco anos. No final da comemoração, um saquinho com os nomes dos
tripulantes passou na mão de cada um. Era o sorteio do amigo oculto. Na mão de
quase todo mundo, na verdade. A imediata ficou sem jeito quando teve que passar
direto por mim, já que até então, eu não voltaria. A verdade é que eu fiquei
aliviado. Eu não gosto de amigo oculto. Aqui, o valor mínimo do presente é de
cinquenta reais. “Cinquenta reais o mínimo? Ainda bem que ela passou direto.”
Todos são gentilmente obrigados a participar. Mas não é só por ser pão duro com
gastos desnecessários em benefício de gente que eu não conheço ou estimo que eu
não gosto de amigo oculto. Pensando bem, não é que eu não goste de amigo
oculto. Eu até tolero. Eu não gosto é de amigo oculto no trabalho.
Eu nunca trabalhei mandando em
ninguém. Fui sempre a base da pirâmide, em todos os trabalhos. Qual o sentido
de no final do ano eu dar presente a quem mandou em mim, descontou em mim suas
próprias cobranças, falou “dá seu jeito, eu quero pronto”, enfim. Quem é ou já
foi pau-mandado que complete aqui a lista. Para mim não há sentido nenhum. Na
verdade, nunca vi um amigo oculto de trabalho com sorrisos reais. Feliz de quem
viu. Não gosto. Me perdoem. Só acho que é uma brincadeira para ser feita entre
amigos; inclusive é o que sugere o nome do jogo.
Lembrei do último motivo pela
minha aversão ao amigo oculto de empresa quando vi uma lista de sugestão de presentes
circulando no dia seguinte. Ao lado de seu nome impresso, cada tripulante
sugeria o que gostaria de ganhar. Vários pediam “perfume tal”. Nilson disse
“armaria, macho! O caba que eu tirei quer um perfume que custa uns duzentos
pau!” Quer dizer: o cara pede alto. Se sou eu que sorteio o nome dele, ele vai
ficar puto – que eu não vou dar um perfume desse. Por isso eu repito. É uma
brincadeira para ser feita entre amigos. Voltaremos ao momento mágico da
brincadeira do amigo oculto na noite de natal.
Ainda na área de embarque, recebi
uma mensagem da imediata da minha turma: “Arthur, você precisa trazer um
presente para o amigo oculto. Traz uma coisa pra homem. Traz um perfume, uma
camisa, não sei.” “Ué? Mas Eu não tirei o nome de ninguém, não vou ficar fixo
no navio, como faz? “ – e aqui, meus amigos; eu já tinha visto que isso ia dar
merda. “Você vai ficar fixo no navio, sim. Confirmamos aqui. Dá o seu jeito aí,
traz um presente.” É muito difícil ficar feliz completamente. Para cada notícia
boa, duas ruins. “Ótimo, estou fixo no navio. Porra, vou ter que participar do
amigo oculto e levar um presente que não sei nem pra quem vou dar. Que merda,
comprei o violão pra trazer, ele ficou em casa e agora me dizem que poderia ter
levado. Filha da puta, se eu tivesse tirado o gás do isqueiro, o Leandro não
tinha tomado de mim! Como eu não pensei nisso antes?”
FORTALEZA
Deixei as coisas no hotel e logo
saí. Precisava resolver logo o presente do meu amigo que era oculto até pra
mim. Precisava almoçar também. O hotel fica na Beira-Mar. Andando pela praia,
pensei no presente. Bom, já que eu não sei quem é a pessoa, acho que a coisa
mais sensata é dar um vale-presente de alguma loja. De uma loja que tenha em
qualquer lugar do país. E que a maioria das pessoas goste. Pronto.
Vale-presente do Boticário. Quem não quiser, dá pra mulher. Ela vai gostar.
Muito melhor do que comprar uma outra coisa e a pessoa fazer aquela cara de
namorado indo almoçar pela primeira vez na casa da namorada, e chegando lá a
sogra diz “é sarapatel. Você gosta, né? “ – e põe um prato de peão pro moleque
que cata até cebola na farofa.
Sim. Um vale-presente. Se eu
ganho um perfume, eu ia ficar muito injuriado. Poucos presentes são mais
pessoais que um perfume. Toma um vale-presente. Vai lá e troca pelo que você
gosta. Simples e sem erro. Não arranca um sorriso enorme do presenteado, mas é
garantido que não termina em sorriso de sarapatel. E a minha preocupação é não
dar sarapatel de presente de natal. Comprei o vale-presente na loja do shopping
Del Mare, perto de onde eu estava. Saindo de lá, fui a uma banca de jornal
comprar um isqueiro vagabundo. “Fala, meu patrão! O que o senhor quer?” ;
“Quero um isqueiro e uma informação. Onde eu almoço bem aqui em Fortaleza? Uma
comida local com preço justo?” ; “Ah, aí é no mercado de peixe. Vale a pena.”
Peguei um Uber, cheguei lá. Vários estandes vendendo peixe, camarão, lagosta,
todos os frutos do mar. Na beira da praia, no final do calçadão.
Os restaurantes ficam no final
dos corredores, bem pertinho da água. Escolhi um e sentei. Passou uma boa meia
hora e ninguém veio me atender. Peguei o cardápio, levei até um garçom e comecei a pedir. “Não,
aqui não é assim. O senhor tem que trazer seu peixe, seu camarão, o que o senhor
for comer. Esse preço aí é o do preparo.” Bem que eu tinha achado barato
demais. Onze reais por uma porção de camarão?
Levantei e fui nos estandes.
“Fala, irmão. Quanto tá o camarão?”; “Vinte reais o quilo, chefe.”; “Beleza, me
vê meio quilo.” ; “Só? Por que o senhor
não leva um quilo? O pessoal costuma levar e deixar congelando no hotel.
Depois, se vier aqui de novo almoçar, e só trazer. Ou levar embora com o
senhor.” ; “Rapaz, seria ótimo. Só que
eu vou embora hoje, e vou ficar trinta e cinco dias embarcado. Nem tem como. Lá
tem camarão também. E não vou levar meio quilo de camarão no avião; ainda mais
congelado por tanto tempo. É só para a gora, mesmo.”; “Então tá bom. Toma
setecentos gramas.” E foi assim que eu comprei setecentos gramas de camarão
fresco por dez reais. “Pô, sentei ali, fiquei meia hora e ninguém veio me
atender. Quando fui atrás do cara, ele disse que tinha que vir aqui primeiro.”;
“Ah, aqui é assim. Em qual restaurante você foi?”; “Aquele. Qual é o bom?” ;
“Aquele ali, ó. Chega ali, já bota o camarão no balcão e pode sentar na mesa
que o garçom vai lá.”
Paguei mais dez reais no preparo
do camarão ao alho e óleo. Mais uma porção de macaxeira e uma de baião de dois.
Mais ou menos dez reais cada um, também. Em pouquíssimo tempo, veio a
macaxeira. Ainda que eu não tivesse pedido mais nada, nunca conseguiria comer
aquilo tudo. “Beber, chefe?” ; “Rapaz, quero a cajuína.” ; “Cajuína não tem.” ;
“Pô, que isso? Não tem cajuína na terra da cajuína? Beleza, traz essa jarra de
água de côco.” E daqui a pouco chegaram a água de côco, o baião de dois, e uma
travessa gigante de camarão. Quando olhei aquilo tudo, pensei que nunca mais
levantaria dali. E que era bom eu começar depressa. Para a minha sorte, na
metade da segunda rodada, apareceu uma menina “moço, será que se sobrar alguma
coisa você pode me deixar comer?” ; “Cara, ainda bem que você chegou! Senta aí
e come comigo, por favor. Isso aqui tudo precisa acabar, e eu não vou conseguir
sozinho.” Eu comi três vezes. Ela comeu duas. E sobrou comida. Antes de sair de
lá, passei em um outro restaurante e perguntei se tinha cajuína, que seria
muito triste sair da cidade sem provar. Da garrafa de seiscentos ml, bebi dois
copos. Se bebesse mais uma gota, sairia um camarão pelo nariz. Olhei a orla já com a noite posta. O hotel fica lá no
final. Deviam ser entre cinco e sete quilômetros de caminhada. Já havia feito o
que deveria e o que gostaria. Tinha tempo e quilos para gastar.
SERÁ
QUE NÃO É HOJE?
Às duas da manhã recebi uma
mensagem. “Arthur. O guindaste da base está ruim. Estão tentando consertar, mas
não se sabe se vai dar certo. Pode dormir. A van vai passar no hotel às seis da
manhã.” Dei graças a Deus e dormi novamente. No dia seguinte, ainda consegui
pegar o café da manhã no hotel. A van só chegou depois das sete. Ainda
passaríamos em outros locais para buscar os tripulantes que moram em Fortaleza.
No caminho, fui parabenizado pelos outros por ter voltado. Chegando na base, em
Paracuru, soubemos que o guindaste ainda não estava pronto. Já era pra lá de
meio dia. “Se passar de três horas da tarde, a gente não vai. São duas horas de
lancha até a plataforma. Não podemos viajar de cesta depois que escurece.” Tive
esperança de passar mais um dia em Fortaleza. Mas não deu. Pouco depois das
duas da tarde o guindaste ficou pronto. E embarcamos.
A MULHER
DE ALUÍSIO
Quando começamos a trabalhar,
entrei na cozinha e Nilson disse: “falei pra tu, rapaz. Encontrei o Aluísio.
Estava sentado com a mulher dele no restaurante. Falei com ele que o comandante
estava chamando pra embarcar aqui. Na hora a mulher dele olhou para baixo e fez
que não com a cabeça. Tô te dizendo, macho. O negócio deles é dólar. Nem
precisei falar mal do navio, ele mesmo já disse que não vinha. Aí a mulher dele
ficou normal de novo. Falei que tu voltava, rapaz.”
MACUMBA DAQUELA BEM BRABA
Eu
funciono muito melhor com música. Nietzsche disse que “sem a música, a vida
seria um erro.” Ele estava coberto de razão. Das artes, a que melhor dialoga
com o espírito. A que melhor abre portas ao pensamento. A que diz a cada um
aquilo que precisa ser dito a si, ainda que sem palavras, ainda que sem idioma.
Há quem não goste de quase nada, mas ainda não encontrei aquele que não
gostasse de música. Uns gostam mais, outros menos. Entre tantos estilos para se
conhecer e apreciar, há (e como há) uma legião que pensa gostar do que o Deus
mercado assim lhes incute. E fecham a mente para todo o resto. E assim como são
as pessoas, são também as criaturas.
No meu
primeiro embarque por aqui, eu colocava meu celular para tocar na copa dentro
de um pote de sorvete. O som encorpava mais, não ficava tão disperso. Ali vinha
blues, forró pé-de-serra, orquestras com música clássica, salsa, chorinho, e
uma enxurrada de samba; entre outros estilos. E se tem música eu estou sempre
cantando. Só ando pelo centro da cidade com meu grande headphone. Andando e
cantando. Muita gente olha e acha graça, acham que eu esqueci que estou no meio
dos outros. Pois se eu canto na frente dos conhecidos, que dirá na frente de
quem corro o risco de nunca voltar a ver.
Por aqui,
a música foi um elemento socializador entre os antigos e o novo tripulante.
Enquanto trabalho na minha copa, as pessoas entram e instintivamente sorriem na
minha direção ao me ouvir cantar. “Só no sambinha, né? Tá certo!”. Como o samba
de raiz é um estilo conhecido em todo o país, eu acabo trazendo memórias
afetivas das pessoas através das músicas que ouço e canto. Eis um poder
gigantesco entre outros que a música tem. Trazer ao presente com intensidade
impressionante o mesmo perfume de momentos idos. Há pesquisas sendo feitas em
casas de repouso de idosos utilizando a música de maneira extremamente eficaz.
Pegam um senhor com alguma
demência, Alzheimer ou qualquer doença que resulte em perda de função
cognitiva, estudam o ambiente musical de sua juventude, perguntam a ele e à
família o que ele gostava de ouvir, o que cantava. Baixam tudo, colocam em um
aparelho de MP3 e dão ao velhinho com um fone de ouvido. Está feito o milagre.
Até os menos responsivos passam a falar de sua juventude, dos clubes que frequentavam,
das roupas que usavam nas ocasiões. Um turbilhão de memórias que pareciam
prescritas pela inércia de seus corpos e mentes, agora fazem seus olhos
brilharem como nunca se imaginou ser possível novamente. Um pouco da atenção de
um jovem pode fazer uma diferença monumental
para alguém que já faz hora extra na vida.
O fato é que as pessoas costumam
gostar do meu repertório. “Poxa, você tem isso em um pendrive? Pode me passar
logo mais?”. Só no celular, pra ouvir enquanto caminho, dirijo ou trabalho;
tenho mais de dezesseis horas de samba. Foi o samba que me fez comprar meu
primeiro hd externo.
Nesse segundo embarque, contando
com a aprovação prévia do repertório, resolvi trazer uma caixa de som com
conexão bluetooth. O som é melhor que no celular, mais bem equalizado. E eu
ainda posso andar com o telefone no bolso enquanto a música permanece lá no
lugar onde eu preciso que ela fique. E deu certo. Música clássica ou chorinho
pela manhã e estilos variados durante o decorrer do dia. Mas sempre um samba. O
que eu posso fazer se não inventaram brinquedo melhor? Quem não gosta, não
presta; já dizia Ataulfo.
Um dia ouvi alguém conversando no
refeitório sobre a importância que a empresa dá à tolerância religiosa. Na
ambientação, lá atrás, no hotel da Lapa, um dos diretores havia falado sobre o
assunto. Disse que é coisa séria, que havendo problema, entre em contato com a
ouvidoria. Eles caem dentro. O chefe de máquinas entrou na copa para um de seus
inúmeros cafés. “Aí, chefe. Pessoal aí estava falando de tolerância religiosa
na empresa, e tal. Fiquei com vontade de testar isso aí. Tô pensando aqui em
fazer uma lista de música de macumba. Botar pra tocar macumba aqui da hora do
café até a hora da janta. O que o senhor acha?” ; “Ih, acho ótimo! Bota mesmo!
Mas bota macumba daquela bem braba!” ; “Hahahaha, o senhor é o melhor, chefe.
Então prepara que amanhã o tambor vai comer aqui.”
Concomitante a meu último
comentário, entrava no refeitório uma oficial. Quando ouviu a conversa, olhou
para mim de cenho franzido e disse “tá repreendido em nome de Jesus!” – ao que
eu respondi “ah, a senhora é intolerante.” ; “Sim. Sou sim!” ; “Então acho que
amanhã não será um bom dia para você.”
Abri o hd e fui procurando o que
tinha. Jongo, samba, tudo o que mencionava matriz africana, orixás, termos em
yorubá. Uns maculelês, uns cânticos de trabalho (tipo ensaboa mulata), umas
ladainhas de capoeira. Não coloquei na lista nenhum único ponto de macumba. Só
fui mais pra dentro da raiz da música brasileira, só isso. Juntei por volta de cinco horas de reprodução
.
No café da manhã seguinte, assim
que o chefe entrou no refeitório, gritou “Arthur, cadê a macumba?” ; “Chefe,
rapaz, você que mesmo, né?” ; “Claro, pô! Não falou que ia botar? Bota!” ;
“Então toma!”. E na mesma hora, Clementina de Jesus perguntava repetidamente
para os presentes, como se, de dentro da caixa de som esperasse que alguém
respondesse: “ô pica-pau, que demanda
tem com baraúna?”
Alguns minutos depois, quem foi
que entrou para tomar café? Bingo! Dessa vez era Ivone Lara quem perguntava
“vixe, minha nossa senhora! Cadê o candeeiro de vovó?” ; “Arthur, será que você
pode baixar o som, por favor?” ; “Claro que posso.” Essa foi a primeira vez que
alguém me pedia para abaixar o som de minhas músicas. O problema era que apesar
de ter abaixado o volume, eu continuava cantando, como sempre. Como que por
intervenção divina, Candeia começou a pedir “sinhá dona da casa, me dê
permissão, sinhá dona da casa, me dê permissão.” Alguma conversa que eu não
conseguia ouvir começou a acontecer no refeitório, quando um entrou para deixar
o prato, olhou para trás e disse “mas a cultura brasileira é isso aqui, ó!” – e
apontou para a caixinha. E arrematei “exatamente. Embora muitos não queiram,
não existe nada mais nacional do que isso.”
Ali, pronto. O satanás que ela
procurava nas minhas músicas baixou foi em seus olhos. “Você queria ser preto,
né, Arthur?” ; “Minha flor, a questão aqui é muito menos se alguém queria ou
não ser preto, do que alguém que tem horror a ser, mesmo que um pouquinho de
nada.”
No embarque anterior,
conversávamos alguns sobre religiões. Ela no meio. Perguntei “você já leu o
Gita? É uma parte do livro sagrado do hinduísmo, o Mahabarata. É a coisa mais
linda!” ; “Não li e nem nunca vou ler.” Me soa por demais contrassenso que à
inteligência suprema, agrade a ignorância. Uma vez, quando ia ao centro de
controle procurar algum documento, ela pediu para me mostrar uma música. Era
uma mulher que até começar a cantar, chorava por quase três minutos. Antes
mesmo que ela começasse eu disse “você vai me perdoar, mas música, pra mim, é
alegria. Até mesmo as mais tristes. Essa música aí é sofrimento.” ; “Você não
gosta de gospel?” ; “Adoro. O blues, o reggae, o samba. São maravilhosos quando
cantam gospel. Aliás, nasceram do gospel. Essa música de igreja, tanto da
católica quanto da neopentecostal, quanto do próprio kardecismo; eu acho um
saco. E já ouvi de todas essas religiões para poder dizer com conhecimento de
causa que são todas um porre. Apesar de contar com músicos excelentes, acho que
todos estão tocando um monte de música porcaria.”
Se na minha caixinha, eu
estivesse ouvindo esse bando de sertanejo dos infernos mandando todo mundo
encher a cara e dirigir, trepar de batalhão e acordar o prédio inteiro, estava
tudo certo. Se eu colocasse uma cítara indiana, um conjunto cantando em árabe,
seria exótico. Se fosse um canto gregoriano era uma beleza. Se fosse a música
da mulher chorando, ô glória! Mas vai botar um tambor pra bater. Acontece que a
cítara, o árabe, o canto gregoriano; são grandes desconhecidos para nós. E aí
todo mundo acha bonito de maneira curiosa. Mas quando o desconhecido é a base
da nossa própria cultura, desconhecemos por escolha. E a isso é dado o nome de
recalque histórico. O maior recalque da história do Brasil é a escravidão. E
quanto menos se fala sobre um recalque, mas ele se reproduz. Por isso a música
da mulher chorando toca no passadiço, na sala de tv, no centro de controle. E
também por isso a macumba toca onde sempre tocou. Na cozinha.
Não tirei a macumba, não. Tocou o
dia quase inteiro. Alguns entravam, arqueavam as costas, botavam a mão para
trás, faziam um “hêp”, e sorriam, numa brincadeira para dizer que tudo bem. Não
sabiam como, mas tentavam reagir positivamente, eu via isso. Havia também quem
não comentasse nem para bem nem para mau. Ótimo, é aí que mora o respeito. No
outro dia, entrando no camarote do comandante, vi o livro com o título que era
mais ou menos “o significado da vida segundo o espiritismo”, uma coisa assim. “Comandante,
o senhor é espírita ou é curioso?” ; “Rapaz, eu sou mais kardecista. Mas na
minha família tem de tudo: católico, protestante, kardecista, e minha avó que
era da umbanda.” ; “Pô, sério? Que bom saber disso!” – e fiquei muito
tranquilo. Quem é que ia se queixar com o comandante dizendo que a avó dele
gostava do diabo?
EU,
ASSEDIADOR DA JOVEM CAMPONESA DE CORAÇÃO NOBRE QUE VAI TODOS OS DIAS AO BOSQUE
PARA RECOLHER LENHA
Alguns dias depois, essa mesma
figura do episódio da macumba levanta da
mesa dos oficiais, entra na copa dizendo “ai, aconteceu um acidente!” ; “Acidente?
Que acidente?” ; “Um acidente!” – ela foi até o final da copa. Entre a
geladeira e a bancada onde fica a sanduicheira. Ficou de costas para mim,
levantou a blusa até a altura dos peitos, e mexeu na parte da frente, por
debaixo d a blusa. Estava fechando o sutiã, que havia se soltado. Quando eu
percebi o que estava acontecendo, baixei a cabeça e saí da copa.
Me chamem do que quiserem, mas eu
detesto mulher a bordo. Sinto muito. Posso até cair no conceito de alguns.
Paciência. O fato é que alguns problemas que elas criam podem ser irreparáveis.
Antes do meu caso, um exemplo que conheci somente por ouvir dizer.
Um comandante casado. Uma praticante
novinha, tendo acabado de sair da escola de formação de oficiais. Acreditem ou
não, dificilmente alguém dá em cima de mulher a bordo. Assédio dá justa causa.
Onde se ganha o pão não se come a carne. A praticante dá mole pro comandante. O
comandante come a praticante. Uma, duas, dez vezes. A praticante começa a
querer ser namorada ou mais que isso. O comandante não vai largar o casamento
por causa de uma praticante. Um dia, no camarote do comandante, ela tenta. Ele
diz não. Ele diz não mais. A praticante desarruma o cabelo e a roupa e dá um berro
“socorro, socorro, tá tentando me comer.” Olha o tamanho desta quizumba. O
navio para de operar, entra em down time (quando o contratante para de pagar, e
todos os gastos ficam por conta da empresa dona do navio) . Sobe gerente. Sobe
RH. Sobe marinha. Sobe Polícia Federal. Justa causa no comandante. Na empresa,
na carreira e no casamento. E o cara era comandante. Imaginem se fosse um
canela. Imaginem se fosse o mais canela dos canelas: o taifeiro. Pois é. “Ah,
mas a culpa é dele, que foi chifrar a mulher.” Gente, por favor, né?
Enfim. Na noite seguinte ao “acidente”
, fui levar café no centro de controle. Estava ela lá, sozinha. “Poxa, queria te
pedir uma coisa. Não faz mais aquilo de novo não, por favor. Aquilo do seu
acidente. Aqui é navio, todo mundo trancado aqui. Não é legal. Se ainda você
fosse uma mulher toda desconjuntada, toda ridícula, eu ia achar era graça, ia
passar batido. Mas não é o caso. Então, se acontecer de novo, procura um outro
lugar pra se ajeitar. Tudo bem?” . Ela me olhou meio embasbacada. Passou.
Quando foi uns três dias depois,
eu levando café no mesmo horário – tenho que levar em vários horários, nesse
horário é ela quem está lá; normalmente sozinha. Assim que entrei, ela
brincando disse “quero café AGORA.” . Eu que pago brincadeira com brincadeira,
levantei a garrafa térmica acima de sua cabeça e disse “então tá. Abre a boca aí.”. Nesse momento
infeliz, ela disse “deixe de ideia, seu filho de uma égua.”.
Eu parei, respirei, e vi que eu
deveria falar o que falaria: “olha: a gente trabalha junto, eu me dou bem com
todo mundo, brinco com todo mundo, só que tem limite. Você acabou de passar do
limite.” ; “Eu passei do limite? Como?” ; “Ora, você acabou de me chamar de
filho de uma égua e tá tudo bem?” ; “Mas você também xinga. E xinga muito, né? “
; “Concordo. Carioca xinga pra tudo. Mas quantas vezes desde que subi aqui pela
primeira vez eu direcionei um palavrão a você? Quantas vezes eu TE xinguei?
Pois é , nenhuma. Quando eu xingo, não falto com o respeito a ninguém. É aí que
você passou do limite.” ; “Ah, você quer falar de limite? Pois você passou do limite
comigo também. Lá no dia do sutiã.” ; “Como é que é? Você levanta a roupa na
minha frente, eu te digo para você não fazer de novo, e eu estou errado?” ; “Se
eu quiser, posso dar parte sua.” ; “É o quê?” ; “É isso mesmo. Se eu quiser,
posso dar parte sua.” – fechei a cara e respondi “ é contigo mesmo. Só que
primeiro você explica pro teu marido que foi levantar a roupa na minha frente.
Se não tinha problema nenhum, deveria ter levantado na mesa mesmo, na frente do
comandante, do chefe de máquinas, da imediata.”. Alguma verdade pareceu saltar
aos olhos dela, pois as pálpebras levantaram sem que as sobrancelhas se
movessem.
Subi muito puto da minha vida. Os
noventa dias do contrato de experiência haviam terminado no dia anterior,
dezessete de dezembro. Um dia depois, vinha isso. Sentei na sala de fumar. Um
enorme problema se apresentava. Acendi um cigarro enquanto pensava. “Se eu
deixar isso pra lá, ela pode ir à imediata ou ao comandante reclamar. Aí fodeu.
Vai ser como se eu tivesse feito e ficado quieto. Até provar que merda de
cabrito não é bola de gude eu já tô com a mão toda cagada. Se eu for falar com
a imediata, ela é mulher e amiga dela. Se conhecem há anos, e eu aqui há um
mês. Vai dar merda. Se eu for direto no comandante que é homem, estou errado de
passar por cima da imediata – que é minha responsável direta. Só tem um jeito,
e mesmo assim é perigoso. Falar com imediata e comandante ao mesmo tempo. Ele é
homem e tem mais poder que a imediata. O que ele resolver, tá resolvido. Pode
dar merda? Pode, e vai. Mas é onde pode dar menos merda. Agora só falta pensar
no que eu vou falar para que dê menos merda.” – e acendi o segundo cigarro.
O comandante sentado na poltrona
de seu camarote, assistindo televisão. “Comandante, infelizmente eu tenho um
assunto muito ruim para conversar com o senhor. Mas gostaria que a imediata estivesse
junto. Posso chamar?”. Ele tirou os óculos, e com a fronte pesada disse “pode
sim.” ; “Imediata, eu queria conversar com a senhora e com o comandante, lá no
camarote dele. É sério.” ; “É agora?”; “Quanto mais rápido, melhor. Prefiro que
seja agora.” – e voltei ao camarote do comandante. Puxei uma cadeira, esperei a
imediata sentar, e comecei.
Descrevi a situação da mesma
forma que fiz acima e comecei a minha defesa. “Acreditem vocês ou não, desde o
dia que tocou macumba na cozinha ela age diferente comigo. Mas o caso aqui não é
esse. Comandante, o senhor é casado. Se o senhor fica sabendo que sua mulher levantou
a roupa na frente de outro cara? Tá tudo bem?”- ele balançou a cabeça que não. “Imediata,
da mesma forma, a senhora é mulher. Se o comandante levanta e ficamos os dois
sozinhos aqui, e de repente eu enfio a mão dentro das calças e fico me
ajeitando, me coçando, me alisando. Tudo bem, ou é uma grande falta de respeito
com a senhora? Pois é. Eu preciso que vocês percebam que esse episódio deve ser
entendido como uma falta de respeito da mesma dimensão. Se não havia problema,
qual o motivo dela não ter feito na frente de vocês, que se conhecem a tanto
tempo? Era um problema fazer na frente de vocês, mas não na minha frente? Olha,
imediata. Eu sei que quando uma coisa dessas acontece, a culpa é do homem a
priori. Eu sei disso e eu concordo com isso. O meu gênero faz muito por onde
isso ser verdade. Olha o João de Deus aí. Reconhecido no mundo inteiro. Imagina
eu! Só que eu não sou doido de fazer isso. Ou vocês acham que o funcionário
mais abaixo no organograma, em período de experiência ia tentar uma dessa logo
com oficial, casada com oficial da mesma empresa? Se eu ainda fosse burro, mas
isso vocês já sabem que eu não sou. Eu sei que ela é adulta, mas na verdade é
uma menina, não tem maldade.” – os dois fizeram que sim várias vezes, como que
em coreografia. “Pois é, mas não é porque eu tenho malícia de sobra para nós
quatro; que eu vou pagar pela inocência dela. Isso eu não vou. Se para resolver
esse caso, vocês acharem por bem me tirar do navio, me mandarem para um 60x60,
fechado. Tudo bem. Não vou guardar mágoa de nenhum dos dois. Volta tudo ao
normal por aqui. É bom para todo mundo. Agora, eu sei que fiquei fixo aqui, não
porque me acharam divertido. Mas porque eu trabalho bem. Se não, eu não teria
voltado. Não teria ficado na escala que a empresa inteira quer pegar. Antes de
começar a falar, eu já sabia o tamanho do problema que eu estava trazendo para
vocês. Mas pensem comigo: se eu fico quieto e ela é quem chega pra falar com
vocês primeiro; assim que eu começasse a me defender, sabe o que o senhor ia perguntar
para mim, comandante? – Arthur, então por que você não veio me dizer isso na
mesma hora? – Então eu vim aqui dizer na mesma hora. Os três fatos aqui são:
ela praticou abertamente intolerância religiosa – um monte de gente viu. Levantou
a roupa na minha frente, e me chamou de filho de uma égua. Ela diz que pode dar
parte de mim por um assédio que não aconteceu. Nem por isso eu vou dar parte
dela por nenhum desse três momentos em que ela me faltou com o respeito por
diferentes motivos, vejam vocês.”
Arthur Schopenhauer escreveu um
livro chamado “como vencer um debate sem precisar ter razão”. Eu tenho esse
livro. Ele te ajuda quando você não tem razão. Mas te ajuda muito mais quando
você já tem. Você identifica as falácias e caminhos retóricos do interlocutor
antes mesmo que elas sejam ditas. Com isso, prepara seu argumento de maneira a
avisar ao ouvinte que, se por acaso tal ou qual coisa seja dita, aqui já está a
prova do contrário. “Olha, Arthur. A gente vai conversar aqui sozinho, você
pode descer. Depois a gente vai conversar com ela. E no final, a gente te chama
para conversar de novo. Mas fica tranquilo.” ; “Olha, Arthur. Eu sou mulher,
sou sim amiga dela. Mas aqui em cima eu sou imediata. E eu separo muito bem as
coisas. Pode se acalmar. Você não fez nada. Eu conheço ela e sei que ela pode
ter feito isso sem pensar no que poderia acontecer. Você fez bem em vir falar
com a gente. Pode ir.”
Horas depois o telefone do meu
camarote tocou. Pediam para que eu subisse. “Arthur, nós conversamos entre nós,
conversamos com ela. Eu entendo que os dois erraram.” (Hã?) “Se fosse outra
administração, as providências tomadas seriam outras; é importante que você
saiba. Mas nós sabemos que vocês são duas pessoas boas, duas pessoas
esclarecidas. Então vamos deixar isso pra lá, com o tempo vai ser como se nada
disso tivesse acontecido.”
Na cozinha, conversando com
Cabeça e Nilson, eles perguntaram “e onde foi que você errou?” ; “Porra, errei
em ser taifeiro, né?” ; “Rapaz, é mesmo. O outro comandante que tinha aí dizia
no refeitório cheio: - Eu nunca vou ficar contra o oficial. O chapéu que ele
usa, cabe na minha cabeça.” ; “Rapaz, eu já consegui que não desse merda
nenhuma pra mim, vocês querem que eu pergunte aonde eu errei? Deixa isso pra
lá...”. Entenderam o motivo para eu não gostar de mulher a bordo? Segue o
baile. A verdade é que o canela
ESTÁ
MUITO MAIS PARA BASTIÃO DA LINDA QUE PARA SEU FERNANDO
Uma das melhores coisas em se
trabalhar a bordo, a meu ver; são as histórias que a gente ouve. Histórias de
vida de pessoas que você nunca conheceria caso aqui não estivesse, histórias
sobre o mar, histórias de pescadores que agora trabalham nos navios. Eu já
trabalhei com gente do mundo inteiro. Já ouvi histórias do mundo inteiro. Americanos
falam sobre geopolítica, guerras, mercado. Noruegueses falam sobre mar, sobre
marinha. Filipinos falam sobre dólares. Alemães falam sobre imigração. Ingleses
e escoceses falam entre si. Eu não sei se é pela criação e imersão na cultura
brasileira que me trazem uma proximidade maior, mas as nossas histórias são de
longe as melhores.
Temos nossas diferenças de
território para território. Uma história de carioca, se contada no Norte, pode
ser ofensiva. Uma história do Sul, se contada no sudeste, pode parecer esnobe.
E por aí vai. Mas as histórias dos nordestinos são as campeãs. A simplicidade
do cotidiano sobre o qual as histórias falam; a simplicidade na forma de
contar; as gírias que eles usam para colorir a história. É fora de série.
Contudo, os nordestinos gostam de
contar suas histórias entre si. Você já participou de um grupo de nordestinos
contando seus causos? Dificilmente. Eu fico muito feliz em ouvir esses caras
conversando no navio. Eu sou apenas ouvinte, mas agradeço pode poder
participar. As histórias que as marés me trazem de todos os lugares do mundo
são um dos motivos da existência dessa série de escritos.
Quando presto atenção nessa gente
falando, presto atenção também na forma como eles pensam, tento entender como
eles enxergam o mundo. Quero extrair o porquê daquela história merecer ser
contada, ao invés de outras tantas. Sabemos que o brasileiro é um cara
extremamente homofóbico. Mas tenho entendido que somos homofóbicos de
diferentes maneiras, dependendo de onde estamos. Nos marítimos do Sudeste, a
homofobia é mais grosseira, mais raivosa, violenta. No sul ela é menos
comentada. Quando é, são usadas piadas de mau gosto. Mas tenho percebido que no
Nordeste, a homossexualidade é entendida de maneira diversa. Me parece que por
aqui, o homossexual é o passivo. O ativo no ato é muitas vezes visto como “o
cara que comeu o viado”. Seguem, então, duas histórias de viado contadas pelos
nordestinos. Primeiro a de Seu Fernando, um cara que comeu um viado; depois, a
de Bastião da Linda. Ambas as histórias se passaram no Mucuripe, bairro pobre
de Fortaleza.
Certo dia, no café da manhã,
estávamos eu e Cabeça fazendo nossa refeição. Foi quando chegou Bira,
marinheiro de convés, por volta de cinquenta anos, egresso da pesca. Sorriso
verdadeiro e alma leve, própria dos puros e simples. Sentou à mesa e disse a
Cabeça: “Bom dia, seu Fernando!” ; “Já vai começar a baitolagem! Diabéisso de
seu Fernando?” ; “Hahahaha, pois eu vou contar logo. Diz que aí no Mucuripe tem
esse seu Fernando. E ele comeu um viadinho de uns 16 anos assim. A mãe do
menino descobriu, deu parte de seu Fernando. Antes do depoimento, o viadinho
procurou seu Fernando e disse que era pra chegar lá; ele dizer que não teve
nada disso não, que ele ia dizer a mesma coisa, e estava tudo resolvido. Seu
Fernando disse que tudo bem, então. Aí, rapaz, quando foi na hora lá do
depoimento, o delegado perguntou – E Então, seu Fernando? O senhor comeu ou não
comeu o menino? E seu Fernando naquela, pescador brabo da porra... levantou e
disse que não tinha ido ali pra mentir não, que mentira era coisa de cabra
frouxo. Bateu na mesa e gritou – COMIIII!” Cabeça ria, e perguntou
retoricamente “é mesmo, rapaz?” ; “’Hun? Aí quando ele passa lá no Mucuripe com
a mulher dele, o povo fica gritando – Seu Fernando, comeu?? E ele grita
COMIIII! Hahahah. E a mulher bate nele, no ombro – Homem, tu não tem vergonha
não, é cabra? Oxxxi! - Aí a gente está agora chamando o Moisés de Seu Fernando,
ele tá que só a porra!”.
De repente sai Nilson (morador do
Mucuripe) da cozinha com o dedo em riste: “Rapaz, isso é história do Mucuripe
que eu sei. Ó macho, o Mucuripe é foda com essas histórias, hein. E as véia? Ó,
Arthur, tem umas véia lá que são fofoqueira que só a porra! Ói, uma vez as duas
véia dentro do ônibus lá, o Meireles. O ônibus vixxxx, lotado! Uma vira pra
outra e diz – Mulher, você não sabe! Eu vi uma coisa que afe Maria, eu não
consigo nem falar! – Pois diga, mulher! – Pois então, não tem Bastião? Bastião mora numa casa de taipa, né? – Que Bastião?
– Bastiããão, mulher! Bastião da Linda, num sabe? Pois eu tava ouvindo uns
barulhos vindo de lá. Aí fui assim na parede e butei o olho num buraquinho que
tinha. Mulher, você não acredita! – Desembuche, diabo! – Mulher, o Bastião
tarra dando o cu pra um caba lá! – OOOOOO CUUUUUU? – Ó, rapaz, e o ônibus lotado,
macho. As véia conversando como se estivessem na sala da casa delas! – Olha,
não posso dizer mesmo que tarra dando, que eu não vi entrando. Mas que era um
tal que tirava de baixo, butarra na boca!” E a gente explodia na gargalhada.
Bira terminou de tomar seu café e
saiu. Ficamos conversando: Cabeça, Nilson e eu. Um dos dois que não lembro
agora batia no meu ombro e dizia “é, Seu Fernando!” ; “Rapaz, depois desses
acontecimentos aí, esse papo de assédio, é muito mais fácil me pegarem pra
Bastião da Linda que pra Seu Fernando...”
PLEIS-TEI-XO!
PLEIS-TEI-XO!PLEIS-TEI-XO!
Então, é natal! E o que você fez?
Porque eu trabalhei pra caceta. Nada de novo no front. Aquela comidalhada que
poderia alimentar oito famílias, mas cada um belisca só um pedacinho. Sem
problemas, serviremos sobras e sobremesas até o ano novo, quando tudo se
repete. Balões coloridos, árvore de natal, toalhas de mesa para festa, discurso
do comandante, da imediata, parará-pão-duro. A não ser que estamos no meio do
mar; nada de diferente do natal do resto do mundo. Algumas piadas, risadas,
pessoas que você não liga tanto - mas o espírito natalino manda que você sorria
para ela, aquilo tudo. Lá no início do texto, eu havia dito que voltaria à
história do amigo oculto. Vamos nessa.
O Bom dia e Cia era foi um
programa que começou nos anos 90, era apresentado pela Eliana. Era a época de
ouro das apresentadoras ninfetas com pernas de fora apresentando programas
infantis. Xuxa na Globo, Angélica na Manchete, e a Eliana no SBT. O tempo foi
passando, a Eliana envelhecendo. O programa teve outras apresentadoras. Na
última versão, o programa era apresentado por duas crianças. O japonês Yudi, e
a Priscila – que hoje é cantora neopentecostal. Nessa versão do programa, havia
uma brincadeira que servia para manter o ibope. Era uma roleta vertical com
vários nomes de brinquedos. As crianças ligavam para lá, entravam ao vivo.
Dentre os brinquedos da roleta, havia o sonho da molecada. O Playstation. Videogame
de última geração que pouca gente tinha grana para comprar. As crianças dessa
época que hoje são pais; compram Playstation dizendo que é para o filho.
Mentira.
Aí a criança entrava ao vivo, e
Yudi perguntava: “Oi amiguinho! Qual é o seu nome? De onde você fala? Puxa, que
cidade linda! E qual o prêmio que você quer?” ; “Claro que noventa e nove por
cento das crianças esgoelavam “pleisteeeeeixo!”. Priscila rodava a roleta e
Yudi dizia “então, amiguinho; pensa positivo e grita bem forte com a gente!
Pleis-tei xo! Pleis-tei-xo! Pleis-tei-xo!”. A roleta parava em outro brinquedo e
Yudi dizia com uma cara de triste, que era a definição da falsidade: “Ahhhhh,
você ganhou uma boneca careca e pelada daquelas que ficam penduradas em sacos
transparentes em biroscas cheias de coroas bêbados, que também é muito legal!
Parabéééns! Até a próxima!”. Nessa hora, a produção tirava a criança
participante do ar. Maior perigo de uma criança dessa largar um palavrão ao
vivo! Eu disse tudo isso, meus caros; pra lhes ilustrar as minhas participações
em amigo oculto. Eu sou a criança da roleta do Yudi.
O comandante começou. “Meu amigo
oculto parará parará parará... é fulano!” ; “êêêêê!!!”. E a coisa foi
acontecendo. Eu dei graças a Deus que ninguém estava abrindo o presente na
frente de todo mundo. Sorriso de sarapatel, só se for sozinho no camarote. É
mais elegante, né? Muita gente ganhando embrulho com nome de loja de roupa,
vários Boticário, umas caixinhas pequenas com jeito de presente caro. Tudo
ótimo. Aí um foi lá no meio e disse: “o meu amigo oculto é um cara muito legal.
É novo no navio, assim como eu. Gosta de música, de violão...” falei, lá vem. E
eu caí na besteira de pensar “peis-tei-xo! Pleis-tei-xo!”. Pra quê... aí fui lá
no meio, recebi o presente, abraço, foto, aquilo tudo. E segui na brincadeira,
apresentando meu amigo oculto e entregando seu cartão-presente do Boticário.
Quando a brincadeira terminou e o pessoal se preparava para comer, meu
presenteador passou por mim e disse com cara de “eu acho. Tomara que eu tenha
acertado.” : “Você vai gostar, você é um cara que eu acho que você vai gostar.
Eu não comprei roupa, que é uma coisa muito pessoal...” ; “Ih, meu irmão, claro
que vou. Relaxa com isso!” Quando eu olhei para a sacola, era de uma
perfumaria. Saco leve. Logo pensei “porra. Lá vem um perfume fedorento ou
esquisito, olha. E roupa que é pessoal demais, né? Parabéns.”. Todo mundo
comendo, eu já havia terminado, fui ao camarote abrir meu presente. Tranquei a
porta, sentei na cama, tirei o embrulho do saco. Assim que eu rasguei o selo do
pacote, o Yudi saiu de lá de dentro gritando “ahhhhhh! Pediu pleisteixo, né,
seu babacaaaa!! Se fodeeeeu! Olha que merda que você ganhou, seu trouxa!! Um conjunto
de três miniaturas de katanas, aquelas espadas de samurai, tudo made in Chinaaa!
Agora você pode tentar amolar essas bostas aqui que não vão pegar fio nunca, e
espetar tudo no furingo de quem te deu, seu otáááriooo!”
Sacanagem não. Quando eu olhei
para aquele negócio, eu logo pensei como o cara foi escolher isso: “hmmmm,
preciso comprar alguma coisa que sirva para qualquer pessoa. Uma coisa que
qualquer um possa usar, que qualquer um vá gostar. Claro! Três minuaturas de
katanas! Quem não precisa disso na vida?”
O melhor foi no outro dia. Eu
entrava no meu camarote. Meu presenteador passou e disse “e aí, Arthurzão,
beleza?” ; “Beleza, meu querido! Fica com Deus! Feliz natal!”. E veio o momento
inevitável. Ele ficou parado debaixo da porta da escadaria, sorrindo, fazendo
que sim com a cabeça. Estava esperando meu comentário sobre o presente. Sacudia
a cabeça e certamente falava por detrás do seu sorriso mordido “então, vala gue
gostou do bresente, pô. Vala aí, bor vavor?” . Eu, debaixo da porta do meu
camarote, igualmente mordia um sorriso. Igualmente sacudia a cabeça. Por detrás
de meus dentes eu dizia “ tá vudido que eu vou dizer gue gosdei daguela merda,
zeu viado.”. Ele deu um sorriso de sarapatel. Foi ali que eu ganhei o meu
presente.
Eu detestei tanto aquele negócio,
que o presente acabou dando certo. Montei tudo bonitinho e deixei na estante do
camarote, que eu não levo isso pra casa nem a pau. Toda vez que eu estou
cansado ou nervoso, olho para aquilo e dou uma enorme gargalhada. Quando eu
olho as minhas katanas, lembro do sorriso de sarapatel que ele deu; não do meu.
AGRADECIMENTOS
Enfim; foi um ótimo ano no âmbito
profissional. Apesar das lesões, dos sustos e de toda ansiedade, estou vivo, com
saúde, de pé. E tenho a vocês, que me lisonjeiam com sua atenção. Obrigado a
todos. Quando escrevo, é como se cada um estivesse aqui comigo.
Faltam menos de dez minutos para
a virada do ano aí no Rio. Se eu puder fazer um pedido para o próximo ano, peço
simplesmente que continuem comigo. Tem sido maravilhoso. Fiquem com Deus e
tenhamos um excelente 2019!